RESENHA | “Os Condenados” e a literatura asfixiante

Você pode até achar que tem controle de si quando o assunto é o sobrenatural, pode pensar que age racionalmente o tempo todo e, portanto, tem total controle em situações desse tipo. Mas e quando o sobrenatural não te dá escolhas? É sobre isso e mais um pouco que eu me disponho a escrever dessa vez, tendo como base Os Condenados, o incrível romance de Andrew Pyper capaz de evocar sensações que precisam ser compartilhadas. Por mais assustador que o sobrenatural possa ser, eu conto com você, leitor, para me ajudar a conquistar um pouco mais de entendimento sobre o assunto. Vamos respirar fundo e mergulhar nessa obra de terror contemporâneo.

Andrew Pyper fez um enorme sucesso aqui no Brasil em 2015 ao ter um de seus livros (O Demonologista) publicado pela DarkSide Books. O sucesso foi tanto que abriu caminho para que um novo título do autor fosse lançado apenas um ano depois. Os Condenados saiu do forno com a mesma elegância de seu antecessor – um cuidado editorial que somente uma editora como a DarkSide poderia ter. Em seu novo romance, Andrew Pyper explora a relação entre irmãos gêmeos e, com precisão cirúrgica, coloca uma boa dose de sobrenatural em sua trama. Fazendo um breve resumo/sinopse, o livro conta a história de Danny e Ashley, irmãos gêmeos que acabam tendo contato com a morte em um determinado momento. A experiência de morte acontece para ambos quase que simultaneamente, mas é Danny quem consegue voltar à vida, e é Ashley quem fica – pelo menos na teoria – para trás; morta, mas não definitivamente. Ashley não aceita o fato, e a relação que já era conturbada só tende a piorar quando ela começa a interferir de várias formas na vida de seu irmão.

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Pode parecer estranho, mas o que Os Condenados tem de mais interessante não é exatamente a sua trama – tanto que procurei não me estender muito para explicar sobre o que o livro se trata –, e sim a sua grande qualidade literária. Quando me refiro a qualidade literária, estou querendo destacar a forma original que o livro assume para se comunicar com o leitor, o jeito que a obra te pega e te conduz durante todo o trajeto. A sensação causada pela obra foi o que serviu de grande influência para que eu escrevesse este texto, sendo assim, nada mais justo do que dar mais atenção para isso. Logo no começo, percebi estar diante de algo que iria me marcar, algo que tinha como propósito não apenas entreter, mas deixar sua marca. Foi logo nas primeiras páginas que o livro me conquistou, uma narrativa que prometia se aprofundar nas sensações do sobrenatural que eu tanto gosto. Não deu outra: o romance de terror imprimiu qualidade e ritmo, mas, acima de tudo, abriu o meu lado sensitivo. Nisso Os Condenados se sai muito bem – faz com que o leitor lhe sinta e o puxa para dentro da história através disso.

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Afinal, por que defino Os Condenados como um livro asfixiante? A resposta é simples: a fumaça que aparece em determinadas partes da história existe quase que literalmente.  Mesmo tendo um ótimo ritmo, o tipo de leitura que você não vai querer parar até terminar, o livro te sufoca o tempo inteiro. Seja pela posição submissa que o protagonista se vê obrigado a tomar ou pelo fogo e fumaça – no segundo caso, originados tanto pelo natural quanto pelo sobrenatural – que permeia as páginas, é sufocante encarar a realidade da obra. No mínimo desconfortável. Os Condenados é uma obra densa, suas páginas são carregadas por conflitos e decisões valiosas que convidam quem está lendo a refletir sobre a sua condição perante o sobrenatural. Em suma, o livro é como uma cortina de fumaça: você irá se sentir sufocado ao chegar perto demais, mas será recompensado quando conseguir atravessar a nuvem negra e garantir uma lufada de oxigênio.

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Andrew Pyper trabalha muito bem com o que chamei aqui de literatura asfixiante. É evidente a evolução do autor quando comparamos Os Condenados com O Demonologista – ambos os trabalhos me agradaram, mas a escrita evoluiu muito, está mais afiada e interessante. Pyper é um autor de estilo próprio que sabe trabalhar com o sobrenatural, colocando em suas palavras um misto de terror clássico e contemporâneo. Após a leitura de seu novo romance, é possível arriscar e dizer que o autor é o maior nome do gênero que surgiu nos últimos anos, um homem imaginativo e de escrita competente. Não é à toa que seus livros são best-sellers e elogiado até mesmo pelo mestre Stephen King; sua arte tem o poder de seduzir e fidelizar os leitores, é muito difícil ler Andrew Pyper e não ficar ansioso por mais.

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O medo clássico tem um novo nome – disse Stephen King, e eu tenho o dever de reforçar suas palavras. Se você procura não apenas sentir medo, mas sim um leque de sensações ligadas ao sobrenatural, Andrew Pyper é um nome para dar atenção. Caso tenha lido O Demonologista e gostado, irá amar Os Condenados com cem por cento de certeza. Caso contrário, dê mais uma chance, pois você irá se surpreender com a evolução alcançada no novo romance.

Livro recebido em parceria com a DarkSide®

 

 

 

4 comentários sobre “RESENHA | “Os Condenados” e a literatura asfixiante

  1. Arrasou na resenha, Wes 🙂 Achei muito legal vc pontuar a qualidade literária. Também senti isso (embora tenha achado a trama sensacional, hahaha). Sou fã do Pyper, acho que ele sabe criar um clima bacana para trabalhar a tensão psicológica. Que que é aquela cena do relógio com o Danny, né? E A DA LAVANDERIA? Um tiro atrás do outro, hahaha. Beeeijo ❤

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    • Ó outro fã aqui ❤ NEM ME LEMBRA DESSAS PARTES, já arrepio todo, hahaha. O Pyper é ótimo, sabe mexer com o lado psicológico como poucos. Quero só ver quando os livros dele começarem a aparecer nas telonas… Ainda vamos ouvir falar muito o nome dele e de suas histórias. Valeu pela visita, beeijo!

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  2. Cê sempre mandou muito bem nas resenhas, mas recentemente eu to percebendo uma nuance meio psicológica que tá boa demais. Você sempre parece entrar no universo do livro pra poder falar sobre ele, e isso dá uma temperada sensacional nos seus textos. Parabéns!
    Tô sempre aqui rodeando seu blog e tá a cada dia melhor.
    Quanto ao livro, já não é de hoje que eu to seco nos livros do Pyper, e agora acho que vou ter que mandá-los direto pro carrinho, haha 😀
    Um abraço!

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    • Cara, você tocou no ponto, entendeu direitinho o que quis passar com o texto. É sempre bom quando alguém consegue enxergar as coisas assim, hahaha. Que bom que você vem curtindo o conteúdo, fico feliz, viu? Espero que consiga ler os livros do Andrew Pyper em breve, ele sabe mexer com esse lado psicológico, você vai curtir. Obrigado pela visita e por acompanhar. Abraço!

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