ESPECIAL DE TERROR | “A casa assombrada de Edgar”, uma homenagem a Edgar Allan Poe

A casa com fama de assombrada ficava em uma área rural, uma casa de madeira isolada no meio de grandes árvores. Tudo no local era pobre, a vegetação era castigada, as árvores não davam muitos frutos e os animais da região nunca se aproximavam da casa. A casa em si era algo horripilante, sempre tomada pela sombra projetada pelas grandes árvores e sempre com uma aparência morta. Eram raros os raios de sol que alcançavam a madeira velha e completamente desgastada da casa. Tudo nela remetia a algo antigo, assim como a região onde foi construída. Aquele local pertencia à outra época e não se misturava com o resto do mundo, não havia nenhum tipo conexão, pelo menos não com coisas boas. E Edgar – morador e atormentado – tinha total consciência dessa situação.

Edgar nunca teve uma vida fácil, viver ao lado de outras pessoas sempre foi difícil – uma vida conturbada e que raramente o favorecia –, difícil descobrir a origem de tanta má sorte. A solidão acabou se tornando sua maior amiga, foi daí que surgiu a necessidade de viver de uma forma diferente. Foi assim que ele chegou até a casa assombrada; era o local perfeito para uma alma como aquela e ele acreditava que nada poderia piorar em sua vida, nem mesmo uma casa com fama de assombrada seria capaz de tal façanha.

Sua rotina era simples, a casa de madeira – era assim que ele a tratava, negando a fama de assombrada – não exigia muito, da mesma maneira que não proporcionava muito. Vivia com o mínimo possível, se acostumou a viver sem regalia durante os 40 anos de sua vida. Vivia há um bom tempo naquela casa e já estava habituado ao clima desolador, era o local perfeito para seu modo de vida solitário. Gostava de escrever e era isso que fazia quase o tempo inteiro, somente suas necessidades fisiológicas dividiam o tempo de Edgar com a escrita. Não era um homem de grandes vícios, somente seu gosto pela escrita beirava um nível onde uma pessoa pode ser considerada viciada. Gostava de beber do vinho antigo que fora deixado na casa de madeira sabe-se lá por qual motivo, mas esse era um hábito moderado.

O dia era sempre tranquilo, o que o incomodava começava na noite. Quando não conseguia colocar mais nenhuma ideia pra fora de sua mente, resolvia que era hora de dormir, ou pelo menos hora de tentar dormir. Apesar de ser toda feita de madeira, a casa parecia atrair coisas do passado com a força de um imã. Deitado em sua cama, Edgar ouvia todas as noites o rangido da madeira velha; sua audição aguçada denunciava o local de origem daquele som: um cômodo na parte inferior da casa, onde ele escrevia durante o dia.  Sempre cauteloso e com o coração na boca, levantava de sua cama e descia a escada – o escuro fazendo companhia – para verificar a origem daquele rangido. Quando já havia descido metade da escada – parte onde a madeira mais denuncia a sua presença –, ligava a pequena lanterna que trazia consigo e apontava o facho de luz para todas as direções do cômodo. O que via era sempre o cômodo como ele havia deixado, nada mais, nada menos. Voltava para a cama e dormia um sono inquieto. Foi assim durante muito tempo.

Dias passaram e a rotina de Edgar continuava sendo a mesma, até que o dia 07 de outubro chegou. O dia da mudança. Qualquer pessoa que tivesse acompanhado os fatos desde o começo daquele dia não poderia prever mudança alguma, o lugar continuava o mesmo e a rotina também; outro dia na casa de madeira. Mas o dia sempre foi generoso, a noite era que causava toda a perturbação. Ao longo dos últimos dias Edgar desenvolveu uma compulsão pela bebida, todo o vinho antigo já estava chegando ao final, mesmo assim ele não economizava na dose, precisava daquilo para amenizar os tormentos de todas as noites. Na noite de 07 de outubro a mudança aconteceu, houve o habitual tormento de todas as noites seguido pela eterna paz. Quando descia a escada para mais uma vez tentar descobrir a origem do rangido, Edgar teve a maior surpresa de sua vida. Trazia com ele a pequena lanterna. Quando a ligou e com a luz começou a percorrer o cômodo, enxergou em cada canto um ser, enxergou tudo aquilo que fazia parte de sua mente; tudo aquilo que ele de maneira tão apaixonada colocava no papel todos os dias. 07 de outubro foi um dia especial para Edgar, após uma vida de solidão ele finalmente encontrou companhia e conforto ao lado das criações de sua mente. “it’s all over now: write eddy is no more”.

Esse texto faz parte do Especial de Terror, uma homenagem minha a Edgar Allan Poe – um dos maiores autores de terror e suspense de todos os tempos. Essa é uma narrativa de ficção, os acontecimentos aqui descritos não aconteceram de fato com o autor.

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