Resenha | Contos insanos de “Além da Carne” são motivos para não subestimar o terror nacional

Outubro foi um mês especial, além de ser o mês do Halloween – onde a energia do terror ganha força – foi também o mês em que tive meu primeiro contato com a obra de Cesar Bravo. Como sou fã de contos, resolvi começar a minha experiência lendo Além da Carne, um livro que contém seis contos insanos do autor. Agora, com minha leitura finalizada, posso afirmar que fiz a escolha certa. Irei contar um pouco dessa minha experiência, passando brevemente por todos os contos e compartilhando com vocês minhas impressões.

Um pacto sinistro

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A cor da tinta é o conto de abertura, conta a estória de Cigano procurando realizar o Pacto dos Mortos. Com um clima denso, sem economizar em nenhum elemento do terror, o conto é permeado por muito sangue, símbolos e tortura. O que mais me chamou a atenção nesse conto foi a escrita bonita, que remete a um clássico do começo ao fim. A cor da tinta é um verdadeiro conto de terror – curto e direto – que dá ao leitor uma única opção: encarar o terror. O tipo de conto que não poderia estar em outro lugar, um conto que te dá uma noção do que vem pela frente.

Um homem de vida dura

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Pagamento cigano é o maior – e o melhor, na minha opinião – conto do livro, se tornou facilmente o meu favorito. Aqui o leitor conhece Marcos, um técnico de informática que leva uma vida dura. Com uma mistura de terror e humor, Cesar Bravo conseguiu criar uma narrativa que prende a atenção, gera suspense e faz com que o leitor se identifique muito com o protagonista devido seu cotidiano. Não é fácil levar uma vida com uma mulher nada atraente – “carinhosamente” apelidada de Odete-Tonelada –, Randy, seu filho deficiente, e ainda ganhar uma miséria. Como não quero revelar muitos detalhes, posso resumir (mas não definir) o conto com a seguinte palavra: reviravolta. Um conto maravilhoso e de várias nuances.

Mais próximo do que você imagina

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O melhor do contrato tinha a responsabilidade de manter o ritmo, pois após a leitura do ótimo Pagamento cigano, a expectativa era alta. E posso dizer que não me decepcionei. Três caras na mesa de uma lancheteria, de madrugada, conversando. Lucrécia sempre de canto – uma mulher que irá servir muito mais do que bebidas aos homens. Um conto de certa forma simples, envolvendo poucos personagens e que se desenvolve em um único local, mas que mesmo assim não deixa de surpreender. Esse conto é como um sinal de alerta: cuidado, o mal pode estar mais próximo do que você imagina. Surpreendeu e me manteve no clima intenso do livro, um ótimo conto no geral.

Bullying, o mal que humilha

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A Fera é um conto que traz o mal em forma de bullying. Serginho é um garoto que sofre todo tipo violência na escola, e que já não aguenta mais. Acredito que muitos dos que estão lendo isso já enfrentaram ou presenciaram situações como as que Serginho sofre quando menores, portanto, é fácil entender e entrar no clima do conto. Uma coisa que chamou muito a minha atenção durante a leitura desse conto foi a reflexão feita com relação ao ato do bullying, pois esse é um tipo de mal que humilha e mexe com a mente, levando a pessoa que sofre esse abuso a pensar em qualquer escapatória, até mesmo a Fera (que você irá descobrir seu significado lendo) é uma maneira válida para dar um ponto final ao sofrimento. A Fera é um conto violento, mistura um mal humano com alguns elementos (ou influência) do sobrenatural. Vale citar que também existe uma ligação incrível entre esse conto e O melhor do contrato, algo muito bem feito.

Um quadro que não deve ser apreciado

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A expressão da desgraça pode ser considerado o conto mais diferente do livro, pelo menos no sentido narrativo. Temos a estória contada por um personagem/narrador que irá relembrar um fato que aconteceu durante sua adolescência, envolvendo tanto ele como seus amigos da época. Em uma cidade pequena, um grupo de garotos realiza desafios – todo tipo de bobagem – para passar o tempo e evitar o tédio. Com o passar do tempo os desafios vão ficando mais perigosos, até que surge um desafio envolvendo um quadro. Não posso ir além para não estragar a experiência de quem vai ler, mas posso afirmar que esse é sem dúvidas um dos melhores contos do livro, muito bem desenvolvido e com um ritmo singular. Todos os personagens possuem características interessantes e soam naturais. É o tipo de conto que mescla suspense e terror na dose certa e ainda consegue ser divertido.

O funcionário

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Justa causa é responsável por fechar o livro com sucesso. De todos, talvez esse seja o que eu menos posso revelar detalhes, pois é um conto realmente curto. Imagine pessoas sem identidade, sem ter nem mesmo um nome – como é o caso do 153.342 – um sujeito que presta serviços para um tipo diferente de chefe. No conto vamos acompanhar o 153.342 tentando exercer sua função, mas isso envolve outro homem, um homem que ele terá que convencer a fazer determinadas coisas. Um conto de muita provocação, bem construído e que se desenvolve rápido.


E assim eu termino meus comentários sobre o livro. Espero ter despertado alguma curiosidade e deixado claro o que te espera em Além da Carne. Se você é um fã de terror, não deixe para depois, vá conhecer esse livro incrível agora mesmo. Não subestime de maneira alguma a literatura nacional, tem muita gente escrevendo livros de qualidade e o Cesar Bravo – que se tornou meu autor de terror nacional favorito – é um deles.

nota

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9 comentários sobre “Resenha | Contos insanos de “Além da Carne” são motivos para não subestimar o terror nacional

    • Realmente, o Cesar tem esse dom! E o melhor é que ele não fica devendo em nada pra nenhum autor do mesmo gênero lá de fora. Obrigado pela visita, Everaldo 🙂

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